Tudo acabando aos pouquinhos, se desgastando, perdendo a
cor.
Dos dias que eram felicidade e determinação agora brotam
raízes de insegurança e medo.
Definho-me.
As ervas daninhas sufocam pouco a pouco as tulipas amarelas
do meu jardim.
Já contei que eu adoro tulipas e que dá um trabalho danado
cultivá-las?
Então. Agora sinto inútil o meu trabalho e fico observando
de longe e com dor forte no peito todas elas partindo.
E vão sofrendo, espatifadas, aleijadas igualzinho aquela
flor da Tiamelinha do conto do Caio.
A gente re-al-men-te se entrega nas menores
coisas, nas menores dores, nos menores detalhes.
Sorrio triste constatando que não há nada que eu possa fazer
a não ser continuar tentando - vivendo - .
Talvez, outro dia eu acorde bem cedo com aquela vontade
louca de plantar outro jardim.
Depois do inverno é claro, que é pras plantas não sofrerem
com o frio.
Mas por enquanto, ninguém entende essa minha falta de ação, aqui sentada
só esperando as coisas acontecerem.
E me olham com aquelas caras de espanto, os olhos
arregalados e na voz um tom sutil de indignação.
Ah! menina, o que foi que foi que aconteceu com você? O que
foi que fizeram com você?
Tenho vontade de responder: Mas eu também não sei, eu
também não entendo.
Roubaram a minha alegria. Pegaram as minhas certezas e
jogaram ao vento.
Privaram-me do sol quente e me deixaram na sombra fria.
Longe do cuidado que eu desejava, longe daquele porto já tão conhecido e
venerado.
Mas ninguém ousaria saber do que eu falo, ninguém
seria capaz de compreender. E com a voz embargada e os olhos tempestivos, pondero.
Evito as deduções erradas e me deixo soar infantil e
melodramática.
Não foi nada.
Foi só a minha tulipa amarela que - morreu.