Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: “Digam o
que disserem, o mal do século é a solidão”. Pretensiosamente digo que
assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em
nossa cara todos os dias.
Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e
receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas
de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que
vão “apenas” dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos nessa
marcha de uma evolução cega.
Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a
produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como
voltar a “sentir”, só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante
de nós.
[...]
Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e
estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o
solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens
(mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa
verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia
é feio, démodé, brega.
Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem
parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado,
“pague mico”, saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais
cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que
vai embora não volta.
Mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por
você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a
oportunidade de um sorriso a dois.
Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano
diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno
demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte
com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser
estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que
o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a
dizer pra alguém: “vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos
dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique
comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida.
Antes idiota que infeliz!”
Arnaldo Jabor